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É Contar e Encantar

Com o que é que te apetece sonhar hoje?

É Contar e Encantar

Com o que é que te apetece sonhar hoje?

Consequência ou Consequência?

Olavo Rodrigues, 27.03.20

A Gabriela e a Andreia passeiam juntas no parque num dia soalheiro e livre de nuvens. Nem parece inverno. A segunda avista um lugar perfeito para abancar depois de algum tempo de caminhada e galhofa misturada com correria. Sob o firmamento, estende-se uma gigantesca passarela de água reluzente de onde se pode ver a vila vizinha, bem ao longe, na outra margem do rio. Um coro de gaivotas, que por ali vagueiam, junta-se à animada conversa das raparigas, que se sentam na relva de um verde fresco e revitalizante. A Andreia maravilha-se com a relva, crescida e húmida, em contacto com a parte das pernas que os calções não tapam.

- Não sei quanto a ti, mas não me importo nada de me sujar. Por mim, ficamos já aqui. - A Gabriela senta-se também de pernas esticadas enquanto observa o vazio para lá da água. A luz ilumina-lhe o rosto, dando ao seu ar pensativo um belo toque. Instala-se um silêncio, pois também a Andreia se perde, embora seja o frenesim das gaivotas que a fixa.

- Sentes isto? - Pergunta a Gabriela.

- Sim. Os cheiros da maresia e da relva misturados. É como se fosse um cocktail de verão para o nariz.

- Não, isto. - A rapariga mais larga empurra a outra e desequilibra-a, fazendo-a quase beijar o chão.

- Está quieta! Porque é que és tão bruta?! Podia ter-me magoado.

- Oh! Vê lá! Realmente, empurrei-te com uma força... parecia um vendaval...

- Já te disse que não gosto de que brinques assim.

- Quem te mandou encharcares-me com o chafariz? Eu disse que não perdias pela demora e ainda não acabei.

- Não. Está mas é quieta.

- Verdade ou consequência?

- Não gosto desse jogo.

- Tu também nunca gostas de nada. - A Gabriela volta a empurrar a Andreia.

- Para!

- Verdade ou consequência? Vá lá, estou entediada. 

- Não... - Outro empurrão e desta vez é o suficiente para a pobre rapariga franzina cair. Nem tem tempo de se sentar como deve ser e volta logo ao chão.

- Não paro enquanto não escolheres.

- Pronto! Verdade. - A magra vai para se endireitar e a mais corpulenta faz os preparativos para atacar novamente, embora sejam só um engano para levar a outra a encolher-se.

- Muito bem, deixa cá ver. - A desafiadora põe-se a fitar o mar, adotando de novo o ar que lhe favorece as bonitas feições à luz do sol. - É verdade - começa poucos momentos depois - que já... tiveste um fraquinho pelo stor Manuel Joaquim?

- Aquele velho jarreta rabugento? Claro que não!

- Está bem. Consequência...

- Porquê? Eu disse a verdade.

- Não tem a ver com isso. Quando dizes "sim", é a minha vez de responder. Quando dizes "não", passamos à consequência.

- Não é assim que me lembro do jogo.

- Há quanto tempo é que não jogas?

- Há uns quantos anos.

- Ora aí está. Eu sei jogar melhor. Vá, tens direito a três opções. Primeira - a rapariga olha à sua volta - vais ter com aquele rapaz jeitoso ali ao pé da árvore e dizes-lhe que está tudo acabado entre vocês.

- "Acabado"? Mas eu não o conheço de lado nenhum. - A Gabriela revira os olhos. - Ah! Já percebi. Mas e se aquela rapariga for a namorada dele?

- Espera, ouve as outras opções. Segunda: vais ao pé daquela mulher sentada no banco de jardim, a tirar selfies, e pede-la em casamento. Terceira: estás a ver aquele puto ali ao fundo com uma bola do Ruca? Aproxima-te e diz-lhe que foi adotado e que tu é que és a verdadeira mãe dele.

- Não! Ele só deve ter três ou quatro anos! Tu és doente!

- Não és obrigada a escolher essa.

- Quero uma quarta opção.

- Népia. Só podes escolher entre três. - A Andreia morde o lábio, suspirando em seguida com os nervos a apoderar-se de cada fibra do seu ser.

- Então? Como é que é?

- Vá lá, Gabriela, não me obrigues a fazer essas coisas.

- O tempo está a contar até ao próximo empurrão. - A magricela sopra exasperada, levantando-se.

- Porque é que eu ainda me dou contigo?! - Atira ao afastar-se em direção ao alvo da partida.

- Desculpa? - A mulher baixa o telemóvel e, no lugar do ecrã com o seu rosto, apresenta-se a Andreia com um boi na garganta. - Não pude deixar de reparar... ah... - o olhar intrigado da outra dá-lhe um aperto no estômago. - Bom, pareces ser bastante fotogénica e estava a pensar se...

- Estás a convidar-me para sair? - Bebe um gole de água da garrafa.

- Bem... quer dizer... - A mulher levanta-se. É alta e curvilínea. Uma modelo, talvez, que vai bebendo água enquanto fala.

- Quantos anos tens?

- Dezanove... - Responde a rapariga tímida a medo. - A outra moça avança mais uns passos.

- E o teu nome?

- Ah... Andreia. - Está prestes a desatar a correr, mas não sabe se teme mais a Gabriela ou esta desconhecida. Pelo menos, da primeira sabe que não ia calar-se com as bocas durante, no mínimo, um mês. "És tão medricas". "Nunca fazes nada de jeito, porque estás sempre com medo".  "Ninguém gosta de pessoas enfadonhas".

- Chamo-me Flávia. - A mulher observa todas as suas características, aparentando estar satisfeita com o que vê. - Está bem. Estás ocupada agora ou...?

- Estou com um amiga. Olha, isto não...

- Estás disponível amanhã a esta hora? Podemos encontrar-nos aqui mesmo.

"No que é que eu me estou a meter? Porque é que ela não percebe que estou claramente desconfortável?" Pensa a mais jovem para os seus botões, pois, uma vez mais, não distingue o que mais a assusta: a ideia de um encontro com alguém por quem não sente qualquer atração ou uma provável reação colérica se a Flávia descobrir que é tudo uma partida imbecil que a Gabriela a obrigou a pregar-lhe.

- Claro.

- Ótimo. Então, até amanhã. Prazer em conhecer-te, Andreia. - A mulher mostra-lhe um lindo sorriso sincero de orelha a orelha, mas não serve de grande consolo à rapariga.

- Só para esclarecer: tu tens...

- Vinte e três.

- Certo... até amanhã. - A Andreia dá meia volta e caminha em passo acelerado, para ao pé da Gabriela, com a intenção de lhe arrancar a cabeça assim que lá chegar.

- Então, como é que correu? - Pergunta-lhe a amiga entusiasmada e sedenta de curiosidade.

- À tua pala, tenho um encontro!

- Estás a gozar?! - A gargalhada da Gabriela preenche o  ar. - Como assim? O que é que ela te disse?

- Eu não disse praticamente nada e ela perguntou-me logo se eu queria sair e… depois começou a tirar-me as medidas! -  A moça mais rechonchuda torna a explodir de riso.

- Não tem piada, Gabriela! Como é que não percebes que isto é gravíssimo?! Além de não saber com que tipo de pessoa marquei um encontro,  nem sequer correspondo ao interesse dela! Eu não sou homossexual. - A frequência do riso desmesurado da outra só aumenta, pelo que a Andreia rebenta para lhe pôr um travão:

- Cala-te já! Achas que a orientação sexual dos outros é uma piada?! Como é que vou encarar alguém que pode achar que lhe pregámos uma partida só por ser homossexual?!

- Relaxa, Andreia. És sempre tão dramática. Não há maneira de ela pensar isso, porque, independentemente de lhe teres pregado uma partida ou não, nunca poderias adivinhar a sexualidade dela. A partida nunca foi pensada em função de preferência nenhuma. Eu, por acaso, queria que te mandasse dar uma curva, mas ainda assim, gostei. Gostei da reviravolta.

- Porque haveria de me mandar dar uma curva?

- Espera, mas não a pediste em casamento?

- Não…

- Oh, então, não vale. Não cumpriste o desafio. Tens de lá voltar e fazê-lo como deve ser ou escolhes uma das outras duas opções.

- Nem penses! Já chega! Se queres acrescentar alguma coisa, vai lá tu!

- Eu? A partida não é minha. Tu é que escolheste aquilo.

- Não me venhas com essa conversa…

- Olha, lá vem a tua amiga.

- Desculpa? - Chama a mulher ao longe. Quando se encontra mais perto, continua. - Não trocámos os nossos números.

- Lamento imenso, Flávia. Eu compreendo que me detestes depois disto, mas a verdade é que não estou interessada em sair contigo. Não é nada pessoal, mas não me sinto atraída por outras mulheres. Foi tudo uma brincadeira estúpida que foi longe de mais por causa do “Verdade ou Consequência”. As minhas mais sinceras desculpas por termos brincado com os teus sentimentos.

- Andreia, não! Estragaste o jogo. Para de levar tudo tão a peito. É só mesmo isso: uma brincadeira. Mas, para variar, não podem dizer nada à menina, que fica logo amuada. A Flávia parece-te chateada, por acaso?

- Pelo contrário, eu adoro o “Verdade ou Consequência”. Posso jogar com vocês? - Para a Gabriela, a partir daqui, seria difícil o dia tornar-se ainda mais interessante.

- Força! Quantos mais, melhor. - As três juntam-se em triângulo, sentando-se com as pernas à chinês. Fazem girar a garrafa de água vazia de que a Flávia bebeu, a qual atribui o papel de interrogadora à recém-chegada e o de ouvinte à moça mais larga.

- Verdade ou consequência?

- Verdade.

- É verdade que alguma vez te besuntaste de lama com a roupa vestida?

- Não.

- Consequências. Das três, uma: fazes isso pela primeira vez ali no rio; corres dois minutos por esta zona do parque e, gritas aos sete ventos que te orgulhas de te disfarçares de burro aos fins de semana, ou apalpas o rabo do rapaz do primeiro casal que por cá passar.

- Caramba, tu és má! - Ri-se a Gabriela. - Mas não perdes pela demora.

A garota sentenciada ergue-se de um salto para, no instante a seguir, proclamar a toda a gente que consiga ouvi-la como adora o seu fato de burro. Recebe vários olhares desdenhosos, de estranheza e uns quantos risos, nem todos omitidos. Com o peito inchado de ter superado o desafio, regressa ao seu lugar.

- Nada mau! - Comenta a Flávia, que faz a garrafa girar outra vez. Uma vez mais calha-lhe o domínio, mas agora quem está na mira é a Andreia cujo estômago não cessa de dar cambalhotas. Se aquele foi o nível de maldade para a Gabriela, nem se atreve a imaginar para o que é que está guardada.

- Verdade ou consequência, Andreia? - A rapariga franzina suspira e responde baixinho.

- Verdade…

- É verdade… que já comeste cozido à portuguesa? - A Gabriela franze o sobrolho.

- Ah… sim.

- Que raio de pergunta é essa?

- Então?

- Isso foi completamente banal.

- E daí? O jogo chama-se “Verdade de Consequência” e não necessariamente “Conta-me os Teus Segredos ou Faz Figura de Urso”. - Desta feita, a garrafa volta a girar. - Vá, a próxima a sair na rifa é… - A base aponta para a Andreia e o gargalo para a Flávia. - Olha, sou eu. Chuta.

- Verdade ou consequência?

- Consequência.

- A sério? Não tens amor próprio? - Intervém a rapariga rechonchuda.

- Tenho e é por isso que não vais saber nada de mim. Querias! Estou à tua mercê, Andreia.

- Hum… tens de me dar um abraço. - Assim o pede, assim o consegue.

- Deixem-se de tretas! Ninguém precisa do “Verdade ou Consequência” para trocar abraços. Então e as perguntas incómodas e interessantes? Onde é que está a ação das consequências?

- Não te enerves, Gabriela. É só uma brincadeira. - A Andreia esboça um sorriso provocador.

- Próxima rodada. - Determina a Flávia.  A mais roliça, de face escaldada da frustração, crava o olhar na garrafa em círculos, com os punhos fechados sob uma tensão esmagadora, rezando para lhe calhar a base e lembrá-las de como é que o jogo deve realmente ser. Bem, por fim, é escolhida, mas pelo gargalo. O gosto do desafio volta a ser presenteado à Flávia.

- Verdade ou consequência? - A Gabriela sente-se indecisa. A desconfiança da mais velha leva-a a também não querer confiar-lhe os seus segredos. Porque confiaria em alguém tão desconfiado? No entanto, também teme o que lhe pode trazer a consequência.

- Verdade... - Responde hesitante.

- É verdade que já comeste comida do lixo?

- Blherg! Não!

- Consequências. Primeira: liga a um dos teus pais e diz-lhe que estás feita refém e que o bandido exige cinco mil euros pela tua liberdade. Segunda: diz sempre “sim” às próximas três perguntas que qualquer pessoa te faça. Terceira: senta-te ao colo de uma pessoa aleatória aqui do parque. A Andreia e eu não contamos.

- Mas isso não é justo! Porque é que és branda com ela e má para mim?

- Não querias perguntas incómodas e ação? Estou a dar-te o que pediste.

- Gabriela, é um jogo. - Reforça a sua amiga, mas sem abdicar do sorriso de antes.

À roliça apetece bater nas duas. Ao despedaçá-las com o olhar, levanta-se, não tão entusiasmada como da outra vez, e avista um rapaz sozinho a ler à sombra de uma árvore noutra zona do relvado. Fica mais frio de repente, o que arrepia a participante em fúria e o vento principia um passeio pelo parque. 

- Desculpa, não me leves a mal, mas isto é por uma boa causa. - Ato contínuo, senta-se ao colo do rapaz, que prossegue a leitura sem levantar os olhos do livro. - O que estás a ler? A capa é bem medonha. - O moço em silêncio estava e em silêncio fica como se nem sequer se apercebesse da rapariga. - Olá? Está alguém em casa? 

Quando lhe levanta o queixo, a cabeça humana cai-lhe e, no seu lugar, surge uma cabeça de inseto com pinças enormes e olhos de mosca. Mal o corpo se reveste de um exoesqueleto, a besta tenta decapitá-la, mas a Gabriela safa-se por um triz, afastando-se aos trambolhões. Num estalar de dedos, o aconchegante céu azul-claro adquire um deprimente cinzento e nuvens em remoinho. O monstro vai atrás dela, pelo que a rapariga dá corda aos sapatos o melhor que pode em direção às companheiras de jogo. Vários daqueles insetos antropomorfos enxameiam o parque ao esburacar o chão e fazê-lo assemelhar-se a um queijo suíço.

A Gabriela tem agora não um, mas seis no seu encalço. O vento passa a assobiar e abranda-a, mandando-lhe o cabelo para a cara, portanto, não repara na mão que atravessa a relva e lhe prende o pé. É queda na certa. Debate-se desesperadamente para se libertar. Porém, a besta é bem mais forte do que aparenta e não se dispõe a largar a vítima por muitos pontapés que leve. Os outros aproximam-se no instante a seguir. Tudo à volta da rapariga, envolta numa atmosfera ensurdecedora de guinchos e gorgolejos, são pinças a abrir e a fechar e olhos encarnados grandes como bolas de futebol.

No entanto, antes de lhe chegarem ao pescoço, as criaturas começam a ser alvejadas, uma a uma, por pequenas bolas de energia. Assim que cai a última, a vítima repara na Flávia, a sua salvadora, a segurar numa pistola futurista e a montar a Andreia, que se transformou num centauro.

- Não fiques aí especada! Sobe para o meu dorso! - A Gabriela acede de imediato. No processo, a Flávia estoura o peito ou a cabeça de mais alguns monstros, que se aproximam em grande número.

O centauro corre a toda a brida à medida que a guerreira as defende. Um arco-íris estende-se do chão ao céu e a Andreia acelera o máximo possível para o alcançar antes das bestas. Contudo, é um coelho gigante (fofíssimo) que lá chega primeiro, destroçando o arco-íris ao cair-lhe em cima depois de saltar. O chão começa a tremer de tal maneira, que ao início parece um sismo de enorme magnitude, mas as raparigas não tardam a perceber do que se trata quando, em debandada, vêm dezenas de coelhos como o outro. É o suficiente para se verem livres da praga de insetos, mas com tantas bolas de pelo a saltitar, é impossível verem por onde andam. Uma sombra engole-as e, ao olhar para cima, a Gabriela berra com todo o ar dos pulmões enquanto as patas do coelho descem.

 

- Gabriela, calma! - A Andreia apressa-se a acudi-la à cama. De forma delicada, volta a deitá-la. - Foi só um sonho.

- Oooh!  Parece que me martelaram a cabeça. 

- É da bebedeira. Vocês não têm limites. Uma litrosa de uma assentada? A sério?

- Vocês? - A bêbeda olha para a cama ao lado e depara-se com a Flávia, o que a faz gritar. - Ela é real?!

- Sim. É capaz de demorar mais tempo do que tu a acordar. Francamente, como é que há espaço no corpo humano para tanta cerveja?

- O que é que aconteceu? E como é que viemos parar ao hospital?

- Estávamos a jogar ao “Verdade ou Consequência” no parque e, a certa altura, foste ter com um rapaz para te sentares ao colo dele, porque foi uma das opções que a Flávia te deu. O rapaz achou-te piada e contaste-lhe o porquê de teres feito aquilo e, no momento a seguir, havia quatro pessoas a jogar àquele maldito jogo. Acontece que ele era viciado em erva e escondia-a em brownies que trazia na mochila. Gostou tanto de nós, que quis partilhá-los connosco e, como dá para perceber, eu fui a única que os recusei.

Às tantas, aquilo já não era um jogo, já não era nada. Só faziam estupidez atrás de estupidez: tu levantaste a saia a uma velhota, a Flávia atirou lama a um polícia e depois o outro desatou a correr para não ser apanhado com erva. A seguir, fomos atrás dele, porque vocês queriam que continuasse a mostrar-vos a sua BD marada com coelhos a esmagar insetos assassinos. Só um alucinado para escrever aquilo, a sério…

- Isso explica muita coisa. Então e a parte da cerveja?

- Vocês obrigaram-me a ir ao centro comercial para vo-la comprar, porque era a única que não estava avariada do sistema.

- E onde é que está o gajo?

- Acabou por ser apanhado. Não por terem descoberto a erva, mas porque partiu, com um extintor, a montra de uma loja de brinquedos que vendia coelhos de peluche gigantes. Entretanto, tu e a Flávia continuaram a beber até desmaiar.

- E tu não quiseste uma pinga?

- Se fosse vodca, ainda marchava, mas agora cerveja…  - A enfermeira entra no quarto e dirige-se à Andreia.

- Desculpa, a hora da visita acabou. Podes voltar noutro dia?

- Com certeza. Adeus, maluca. Vê se ganhas mais juízo a partir de agora.

- Tu e a tua conversa chata de sempre. Aprende a curtir! - Antes de abandonar o quarto, a rapariga magra afirma da porta.

- Eu aprendi, mas ficaste logo vermelha que nem um tomate quando a coisa me conveio a mim. Não podes achar divertido só quando corre bem para o teu lado. - Desta feita, vai-se embora.

À medida que a enfermeira trata da Gabriela, esta põe-se pensativa, fitando o vazio, mas desta vez sem tanta luz para a alegrar. As persianas estão meio fechadas para não perturbar os pacientes que estão a dormir. Um ressentimento toma forma dentro de si, pois está farta de que a Andreia se julgue tão mais inteligente que ela. Talvez esteja na altura de arranjar uma nova amiga. É altura de uma nova aventura. Sempre foi azougada e se achou muito boa a viver o inesperado do momento, por isso, porquê parar agora?

- Sra. Enfermeira, não ter nada para fazer é uma seca. Já alguma vez jogou ao “Verdade ou Consequência”?

- Eu não sou mesmo uma enfermeira. Estou a cumprir uma consequência do jogo. Espero não ter feito nenhuma asneira a tratar de ti. - A mulher retira a bata, atirando-a para o chão e, antes de sair pela porta, acrescenta - se precisares de alguma coisa... não me chames a mim. 

- O quê? Espera, não!... Segurança!!! - Tão depressa como grita, leva com uma tampa de garrafa de água no nariz. 

- Baixa o volume, há quem queira dormir. Ato contínuo, a Flávia vira-lhe as costas para voltar a adormecer. 

 

 

 

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